sábado, 30 de junho de 2012

O PROCESSO DE PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO ESCOLAR


O PROCESSO DE PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO ESCOLAR
Rosemeire Barreto dos Santos Carvalho
rose@cultura.com.br
Resumo: o objetivo deste trabalho é apresentar considerações e reflexões sobre o avanço das
políticas educacionais na descentralização, ampliando suas responsabilidades na busca da qualidade
de ensino. Inicialmente, uma discussão sobre o processo de planejamento que abrace as diferenças
presentes no dia-a-dia da unidade escolar através da participação ativa de pais, alunos, professores,
coordenadores e funcionários nas decisões da escola. Em seguida, comentários sobre a situação das
escolas e formas alternativas que contribuam no processo de construção de uma escola democrática
e autônoma.
Palavras-chave: gestão, organização escolar, planejamento, participação.
O propósito deste texto é refletir sobre a política educacional na
descentralização, tomando por base uma discussão sobre o processo de
planejamento escolar. Busca, inicialmente, compreender o papel da escola, a
organização, as condições em que ela vive e a necessidade da participação ativa de
toda a comunidade escolar. Neste texto serão apresentadas reflexões sobre um
processo de planejamento que incorpore a participação efetiva de pais, alunos,
professores, funcionários e especialistas nas decisões sobre os rumos da escola.
Entender o papel da escola e suas relações com a sociedade tornou-se essencial
para garantir um planejamento verdadeiramente participativo. Cabe salientar que
todo processo de planejamento participativo tem por excelência a transformação da
realidade, construindo desta forma uma escola democrática e autônoma.
O PAPEL SOCIAL DA ESCOLA
A escola, representando um projeto social, é responsável pela promoção do
desenvolvimento do cidadão. Cabe a ela definir-se pelo tipo de cidadão que deseja
formar, de acordo com a sua visão de sociedade. Cabe-lhe também a incumbência
de definir as mudanças que julga necessário fazer nessa sociedade. Neste sentido,
Lobrot (1992, p.81) apresenta o seu ponto de vista a respeito do papel social da
escola:
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O seu papel é difundir a sabedoria e esta é necessária para o funcionamento
da sociedade. Reduz a ignorância e, por isso, permite que os indivíduos
tenham uma conduta esclarecida. Assegura o ajustamento profissional, pois
qualquer profissão requer uma quantidade considerável de conhecimentos.
Em suma, assegura um progresso simultaneamente individual e coletivo,
que todos desejam e cuja promoção é missão dos responsáveis.
A escola é um espaço que se relaciona com a vida, que forma sujeitos.
Como espaço de formação de sujeitos, a escola está encarregada de incentivar,
colaborar e se transformar em um ambiente amplamente democrático. Quando a
escola assume a responsabilidade de atuar na transformação e na busca do
desenvolvimento social, seus agentes devem empenhar-se na elaboração de uma
proposta para a realização desse objetivo. Essa proposta ganha força na
construção de um planejamento escolar participativo.
IMAGENS ORGANIZACIONAIS DA ESCOLA
No campo educacional, o planejamento participativo desempenhará um papel
estratégico na melhoria das organizações escolares para a construção de
comunidades educativas. As escolas têm assumido um peso cada vez maior na
concepção, planificação e realização de diversas atividades em distintos níveis do
seu funcionamento. Para Costa (1998) o progressivo entendimento das escolas
como organizações dotadas de significativas margens de autonomia, como os
espaços onde educadores e educando devem assumir uma postura criativa e
interventora traduzida na definição e implementação de atividades que lhes
interessem e sejam localmente significativas. Um diagnóstico da realidade
organizacional escolar pode compreender diversas caracterizações como anarquias
organizadas, sistemas debilmente articulados, arenas políticas, sistemas caóticos,
fachadas ritualizadas de mitos e cerimônias. “O que cada escola realmente é só
pode ser verificado através de uma análise das situações concretas” (PIRES, 1991,
p. 65). Analisar as organizações, as inovações, os discursos e as práticas, bem
como identificar os modos de funcionamento e das imposições normativas no âmbito
escolar, a existência de desarticulação, de conflitualidade, de situações anárquicas e
artificiais, a instabilidade que desenvolvem no seio das organizações escolares
devem ser motivos para se procurar novas formas de organização.
É preciso lembrar que os padrões de qualidade para a educação, sustentados
pelo Banco Mundial e adotados pelo Ministério de Educação (MEC), são
inspirados no conceito da qualidade total das empresas, concebidos pela
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lógica do mercado, portanto, não podem ser automaticamente transferidos
para as organizações educacionais. Essas organizações, todavia, são
submetidas aos critérios das agências financiadoras e compelidas a se
adequar a eles (BRZEZINSKI, 2001, p.337).
Percorrer as diferentes partes da organização, saber como elas se articulam
entre si, principalmente observar os diferentes cursos de autoridade, de material de
trabalho, de informação e de processo como estes influenciam o próprio
funcionamento da organização e como as diferentes partes se articulam entre si
mediante esses cursos. Costa (1998) considera importante, na área da organização,
uma análise interpretativa crítica da realidade, pois somente desta forma será
alcançada a autonomia e a transformação estrutural e organizacional da escola e da
sociedade. O autor afirma que:
[...] trata-se da mudança de sentido operada na linha de investigação seguida
pelos estudos em organização e administração escolar com a introdução de
novas formas de abordar a realidade social presente na escola com base em
pressupostos teóricos e metodológicos oriundos da tradição fenomenológica
(COSTA, 1998, p.128).
Contudo, a reflexão sobre estes contextos organizacionais poderá desocultar
a prática vigente na realidade no interior da escola. Supondo assim uma prática
democrática e participativa nas organizações educacionais.
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO
O ato de planejar é sempre processo de reflexão, de tomada de decisão
sobre a ação; processo de previsão de necessidades e racionalização de emprego
de meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis, visando à concretização de
objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir dos resultados das
avaliações (PADILHA, 2002, p. 30 - 1). “Planejar, em sentido amplo, é um processo
que visa a dar respostas a um problema, estabelecendo fins e meios que apontem
para sua superação, de modo a atingir objetivos antes previstos, pensando e
prevendo necessariamente o futuro", mas considerando as condições do presente,
as experiências do passado, os aspectos contextuais de quem planeja e de com
quem se planeja. (ibid., p.63). O Planejamento Escolar envolve o processo de
reflexão, de decisões sobre a organização, o funcionamento e a proposta
pedagógica da instituição. “É um processo de racionalização, organização e
coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do
contexto social” (LIBÂNEO, 1992, p.221-2).
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Quando se fala em planejamento da educação, é importante ressaltar a
definição de Gandin (1983, p.23): planejar é:
elaborar – decidir que tipo de sociedade e de homem se quer e que tipo de
ação educacional é necessária para isso; verificar a que distância se está
deste tipo de ação e até que ponto se está contribuindo para o resultado final
que se pretende; propor uma série orgânica de ações para diminuir essa
distância e para contribuir mais para o resultado final estabelecido; executar –
agir em conformidade com o que foi proposto; e avaliar – revisar sempre cada
um desses momentos e cada uma das ações, bem como cada um dos
documentos deles derivados.
O processo de planejamento participativo da escola vem crescendo com
muita força nos debates e muitos teóricos acreditam que para se democratizar a
gestão da educação e por conseqüência a qualidade de ensino, o melhor caminho é
a descentralização do sistema educacional. Para se criar, verdadeiramente, um
planejamento participativo é necessário conhecer a escola e seus relacionamentos
com o sistema educacional e a sociedade. A escola é influenciada pelos problemas
internos e externos. Cada unidade enfrenta problemas diferentes de acordo com a
região, etnia, tradições, religião, condições sócio-econômicas. Conhecer os
problemas da escola torna-se essencial no processo de planejamento. Se
compararmos duas escolas em que a violência está presente, cada uma pode ter o
mesmo problema com causas diferentes. Enquanto uma a causa maior pode ser o
preconceito racial, na outra a violência pode ser causada pela disputa de grupos
rivais, venda de drogas. Esses problemas não estão sozinhos, geralmente são
acompanhados de outros (espaço físico, lotação, localização, falta de funcionários
ou professores, etc.). Cada escola, ao planejar sua trajetória, deve levar em conta
essas variantes enfrentando assim o problema de violência na escola. Esse
problema deve ser encarado por todos da comunidade escolar, criando vínculo entre
as pessoas envolvidas e democratizando as decisões, caso contrário, o processo se
tornará fragmentado. Segundo Ferreira (1979) o planejamento deve ser
acompanhado, avaliado e replanejado. Pois desta forma, possibilitará modificações
necessárias.
Uma série de estudos evidencia a importância da gestão como um dos fatores
determinantes para o sucesso escolar. Temas como liderança do dirigente escolar,
democratização da gestão, planejamento e aperfeiçoamento contínuo da equipes
envolvidas, revelam a necessidade de colocar a escola como foco central das
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políticas educacionais. O maior desafio consiste em reordenar a gestão (estratégica,
baseada no diagnóstico situacional, na definição de metas, objetivos e formas de
avaliar, modernizar procedimentos administrativos) e proporcionar condições para
autogestão e acompanhar de forma sistemática. A participação na gestão da escola
pode dar-se numa gama variada de possibilidade. O processo participativo de
gestão da escola constitui uma forma concreta de contribuir para o desenvolvimento
da democracia na escola e na sociedade. Essa participação será facilitada pela
conquista de crescente autonomia pela escola nos domínios da gestão financeira,
pedagógica, administrativa e cultural.
Para Dalmás (1994), ela precisa ser trabalhada e vivenciada com todos os
segmentos da escola e comunidade. É de grande importância a escola discutir sobre
metodologias que propiciem a formação de pessoas atuantes, participativas e
responsáveis na construção de novos caminhos para a transformação da realidade.
Mas não serão apenas as novas regras nas estruturas organizacionais que irão
garantir as mudanças pretendidas, mas as transformações desejadas por todos os
segmentos escolares criadas pelo consenso, negociada entre diversos e diferentes
posicionamentos que geram força para implantações desse processo participativo. O
agir participativo está focado no diálogo, na explicitação constante dos interesses e
no entendimento mútuo dos envolvidos. A escola precisa gerenciar o dilema: de um
lado organizar de forma racional e por outro lado a organização contará com
participação de todos. E sempre que houver necessidade de mudanças, deverão ser
assumidas coletivamente. Ou seja, “vivenciar a participação envolve riscos e
conflitos, num verdadeiro desafio aos que lutam por um constante envolvimento dos
membros da comunidade educativa no processo participativo” (ibid., p.22).
Algumas medidas contribuem na instalação de uma estrutura políticaadministrativa
adequada à participação nas tomadas de decisão de todos os
setores: escolha dos dirigentes escolares; conselhos de escola (pais, alunos,
professores, funcionários) e com efetiva função política de direção da escola; grêmio
estudantil; associação de pais, mestres e funcionários; debates (discussão dos
múltiplos interesses e com assuntos que dizem respeito à escola). Outra medida
importante é instalação de um processo de avaliação constante da escola “... para
que se possam corrigir rumos, providenciar recursos, adequar procedimentos,
redimensionar metas, superar fracassos” (PARO, 2003, p.80).
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Padilha (2002) afirma que uma das estratégias para desenvolver a
capacidade de planejamento participativo é o projeto político pedagógico. “Pensar o
planejamento educacional e, em particular, o planejamento visando ao projeto
político pedagógico da escola é, essencialmente, exercitar nossa capacidade de
tomar decisões coletivamente” (ibid., p.73). A gestão da escola deve estar
fundamentada no projeto político pedagógico, envolvendo efetivamente todos os
setores da escola, visando à cooperação e participação consciente e ativa
resultando assim em uma escola participativa. O projeto político pedagógico é um
instrumento teórico metodológico, definidor das relações da escola com a
comunidade. Gandin (1994) ressalta que a participação significa não apenas
contribuir com uma proposta preparada por algumas pessoas, mas representa a
construção conjunta. Significa, também, a participação no poder que é o domínio de
recursos para realizar sua própria vida, não apenas o individualmente, mas
grupalmente. “O planejamento participativo é o modelo e a metodologia para que
isto aconteça” (ibid., p. 29).
Dalmás (1994) resume dizendo que três momentos fazem parte do processo
de planejamento participativo: elaboração, execução e avaliação. Ao mesmo tempo
em que se elabora e se executa, se avalia. E acrescenta que metodologicamente
são quatro passos vivenciados:
Fixação de diretrizes gerais; trata-se do referencial teórico;
Diagnóstico, ou seja, identificação da realidade e das condições existentes. “O
diagnóstico é um juízo sobre uma realidade ou uma prática” (GANDIN, 1994, p.45).
Pelo diagnóstico percebe-se a real situação em que a comunidade educativa se
encontra na sua aproximação ao ideal estabelecido.
Programação, isto é, o esforço para diminuir a distância entre o que se é e o que
realmente se quer. Após identificar as principais necessidades, define-se a
programação para resolver os problemas, atender necessidades e reforçar avanços,
a fim de transformar a situação existente.
Avaliação é um processo constante que confronta o resultado que se vai
conseguindo. Através dele pode-se fazer sucessivas revisões e reformulações,
tornando desta forma o plano dinâmico.
O planejamento é um processo ininterrupto, com começo, meio e fim. Assim
cada fase é definida por Ferreira (1982, p.59) como:
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[...] a fase da preparação do plano é a fase em que se estuda, pesquisa e
analisa tudo que se tem que levar em conta para poder tomar as ditas
decisões. Na segunda fase o que se faz é verificar, com ações em curso, se
cada uma dessas decisões foram acertadas ou erradas, e o que é preciso
mudar. E, na terceira fase, se analisa cada decisão tomada ou corrigida para
ver se no final das contas era o que tinha que ser decidido mesmo, e porque
deu certo ou não deu certo.
O mesmo autor afirma que acompanhar não é assistir, mas interferir,
modificar até atingir os objetivos propostos. As fases precisam ser vistas como
elementos interatuantes de um único processo, que ainda faz parte de outro
contexto.
DIVISÃO DE RESPONSABILIDADES
Segundo Paro (2003) é preciso buscar a reorganização da autoridade no
interior da escola, conferindo-lhe poder e condições concretas para que ela alcance
objetivos educacionais. O diretor escolar é um agente de transformação e deve
assumir o papel de motivador, incentivador e catalisador de ações que liguem a sua
escola às outras escolas e a comunidade. O diretor e seu vice “... devem ser
capazes de ‘seduzir’ os demais segmentos para a melhoria da qualidade do trabalho
desenvolvido na escola” (PADILHA, 2002, p.75).
É necessário que o diretor tenha uma visão ampla e mantenha uma atitude
revolucionária. Terá que incentivar os processos participativos, acompanhar,
participar, contribuir e promover espaços para que outros segmentos da escola
possam participar na elaboração, execução e avaliação das decisões. Que cada
segmento possa se expressar de forma livre e crítica a todas as propostas que
guiarem os rumos que a comunidade quer adotar. Mas que ele compreenda a
dimensão política de sua gestão e que tenha plena consciência que esse processo
não será fácil.
O diretor escolar deve dividir responsabilidade e buscar a participação de
todos os setores havendo desta forma melhores condições para pressionar os
escalões superiores a dotar a escola de autonomia e recursos. Portanto, a escola
organizada democraticamente, desempenhará um papel transformador e atenderá
aos interesses da comunidade escolar. Uma gestão democrática não é centrada
apenas na figura do diretor, mas também nas figuras dos professores, dos
funcionários, pais e alunos. O corpo docente deve organizar atividades escolares de
forma a compartilhar as responsabilidades. A participação de representantes do
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corpo docente da escola constitui um instrumento de fortalecimento do poder
docente. Os professores exercem um papel fundamental no processo educacional e
atuam como agentes de transformação do contexto onde se inserem, assim define
Brzezinski (2004):
[...] o professor é o profissional dotado das capacidades, entre tantas
outras, de produzir conhecimento sobre seu trabalho, de tomar
decisões em favor da qualidade cognitiva das aprendizagens
escolares e, fundamentalmente, de atuar no processo constitutivo da
cidadania do ‘aprendente’, seja ele criança, jovem ou adulto.
Dessa forma o corpo docente estará mais compromissado com a tarefa
educativa e participante na solução de seus problemas. “Tendo os docentes
participando ativamente do planejamento escolar, eles estarão comprometidos com
ele e, principalmente, organizando suas atividades com base no que foi decidido
coletivamente” (PADILHA, 2002, p.75-6).
A presença dos pais na escola é também um importante instrumento de
melhoria na qualidade de ensino-aprendizagem, visto que os pais são os mais
interessados em buscar a melhor educação para seus filhos. Desta forma os obriga
a assumir responsabilidade no confronto dos problemas e a participar das mudanças
necessárias. Da mesma forma a participação dos estudantes se faz necessária na
instituição escolar. Tanto os pais como os alunos devem ser ouvidos e participar do
processo decisório da escola. “Eles devem vincular-se principalmente aos diversos
colegiados existentes na escola, com o que estarão até mesmo consolidando a
prática participativa” (ibid., p.74).
O coordenador pedagógico articula a equipe pedagógica em torno do melhor
cumprimento do que foi estabelecido no projeto político pedagógico. “Ele exerce
uma responsabilidade da maior relevância durante todo o processo, desde a fase de
organização das reuniões de planejamento das atividades pedagógicas da unidade
escolar até a da execução, desenvolvimento e avaliação do projeto da escola” (ibid.,
p.75). Ele precisa ser ativo e presente em todos os momentos porque é ele que vai
promover a unidade da equipe na procura do sucesso didático pedagógico da
escola, sendo o mediador entre as áreas do conhecimento e os diferentes
profissionais. Cabe ao coordenador pedagógico, na elaboração dos projetos,
coordenar e buscar nas demais instituições (órgão privados, públicos ou empresas)
a realização e parcerias. Outros seguimentos que podem contribuir na prática do
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planejamento escolar são as associações de bairro, entidades comunitárias, o
assistente técnico-pedagógico e o supervisor de ensino. Cabendo a ele promover
condições institucionais da realização do projeto escolar e participar ativamente do
processo de construção e desenvolvimento deste.
RESISTÊNCIA AO PLANEJAMENTO
Embora o planejamento seja necessário, muitas pessoas resistem a envolverse
tendo em vista que ele requer dedicação, tempo e energia dentre outros fatores
dessa resistência. Segundo Lück (1986), essas dificuldades e limitações são de
diversas origens, como por exemplo, falta de compreensão dos benefícios do
planejamento, pressões do ambiente de trabalho, disponibilidade de tempo, falta de
habilidade para planejar, etc. Alguns aspectos serão analisados.
Falta de tempo para planejar, ou seja, há tanto que fazer em tão pouco tempo.
Porém se o tempo é pequeno, mais se deve cuidar para bem utilizá-lo, sendo
possível através do planejamento. Deve-se ter bom senso no controle do tempo.
Preocupações com soluções imediatas, com resoluções rápidas de problemas e a
prestação de serviços. É preciso observar que preocupações por soluções imediatas
atuam-se sob o controle dos problemas, mas não os controla.
Expectativas do ambiente de trabalho; com as pressões do ambiente de trabalho
surge uma atitude negativa em relação ao planejamento, não conseguindo executar
o que fora planejado. Mas senão for implementado o que foi planejado, nada
ocorrerá para melhorar.
Hesitação em assumir responsabilidade, visto que ter responsabilidade significa
que vai se fazer o que foi planejado, se torna um compromisso de trabalho.
Falta de habilidade para planejar, ou seja, o planejamento “envolve habilidade de
identificar necessidades, estabelecer prioridades, analisar alternativas de ação,
definir objetivos, estabelecer estratégias, atividades e cronograma de ação ajustadas
e definir programa de avaliação preciso e ajustado” (ibid., p.24).
Mas é necessário analisar os motivos e as atitudes no envolvimento do
planejamento para que possa racionalizar e eliminar resistências. Contudo é
importante ressaltar que a falta do planejamento poderá acarretar problemas como
má distribuição do tempo, desentendimento, confusão, ineficiência e vários outros
problemas que atrapalham o crescimento da unidade escolar. Parte dessa
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resistência ao planejamento se dá pelo fato deles “não terem servido para nada e
porque, como atividade lúdica, eles são quase sem graça” (Gandin, 1983, p.13). O
mesmo autor ainda completa que se deve descobrir por que não são realizados os
planos, pois desta forma possibilitam-se condições de participar de um processo de
planejamento.
MOTIVAÇÃO PARA PLANEJAR PARTICIPATIVAMENTE
Gandin (1994) diz que é importante que o processo todo seja um instrumento
de valorização das pessoas, de riqueza, de alegria e de realização. Ele destaca que
a elaboração do plano deve ser sentida com clareza, dinamismo e é utilíssimo para
ajudar as pessoas a crescerem mais globalmente. Para Dalmás (1994) ao assumir
um processo participativo, há necessidade de que os envolvidos estejam motivados
para a participação. É de fundamental importância despertar a consciência de que
são sujeitos e por isso precisam se comprometer e assumir responsabilidade neste
processo. Apesar de ser um elemento essencial no processo, “motivar não é fácil. É
preciso estar motivado. Os participantes percebem a motivação e deixam-se cativar”
(ibid., p.43).
Ao assumirem integralmente o processo participativo, os professores e
demais participantes da comunidade escolar estarão estimulados a decidir, a fim de
promoverem a eficiência e a eficácia de uma educação de qualidade. Vale lembrar
que, apesar da direção e dos serviços especializados de uma escola, o corpo
docente tem a possibilidade de transformar ou manter a dinâmica de uma instituição.
Essa força transformadora, na medida em que forem afirmando e crescendo, abrese
para a presença dos demais segmentos da comunidade a participarem do
processo. Para Gandin (1994) todos os membros da instituição escolar são
chamados a construir, a elaborar, executar e avaliar a ação participativa na escola.
Segundo ele é de grande importância a participação do coordenador (ou equipe) que
tenha conhecimento e motivação para coordenar o processo de planejamento
participativo e ainda completa “o caminho estreito é a coordenação bem direcionada
que reúne, incentiva, organiza propostas claras e questiona o pensamento do grupo”
(Gandin, 1983, p.63). Neste processo de construção, ter alguém que coordene com
espírito questionador e incentivador com decisão firme possibilita o processo
participativo transformador. Mas Dalmás (1994) chama a atenção para o fato de ser
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ilusório a participação total. É necessário que haja um grupo razoável disposto a
assumir a nova proposta e que sirva de convite para os outros se integrarem na
jornada vivenciada. Aos poucos, os envolvidos vão percebendo que fazem parte do
processo os conflitos, choques, questionamentos, exigências, incertezas, dúvidas e
inseguranças, mas o risco faz parte do desafio. Não restam dúvidas que quanto
maior for o envolvimento dos participantes, maior será o compromisso com o
planejamento. Gandin (1983, p.107) completa afirmando que “um processo de
planejamento exige, quando se pretende o bem de todos, que a participação
aconteça em cada momento e em cada ação”. Esse envolvimento funcionará com
motivação para que o grupo possa crescer globalmente, criando assim um clima
favorável para o desenrolar do processo de planejamento participativo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de inúmeros problemas educacionais e o real papel da escola, faz-se
necessário uma ampla reflexão e um grande esforço coletivo para derrubar as
barreiras que impedem a construção de uma escola democrática e autônoma, de
uma escola que sirva de instrumento para a transformação social. Não basta
somente querer, é preciso criar ambiente e condições que disponibilizem os
recursos necessários à realização do processo participativo de cada escola.
A melhoria da qualidade de ensino das escolas é algo que se discute e se
rediscute há muito tempo. O princípio básico para essa melhoria deve passar
necessariamente por uma redefinição de sua própria organização, a partir da
construção coletiva de um planejamento participativo. Mas é essa prática de
organização que a escola tem dificuldade em realizar, até por que não faz parte de
sua cultura desenvolver projetos a partir de sua própria iniciativa. As escolas durante
muito tempo apenas serviram de “laboratórios” para programas impostos pela
implantação das políticas educacionais do país e dos estados. É preciso que a forma
de gestão escolar seja democrática e que sejam rompidas velhas e cristalizadas
formas de gerenciamento escolar. Essa mudança deve considerar novos modos de
pensar e agir. Deve-se romper com a visão estreita e de controle. Deve-se pensar
em uma escola que construa seu próprio planejamento, que supere o
espontaneísmo, mas também a inflexibilidade. A organização do trabalho escolar
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precisa ser revista. É necessário caminhar para uma escola com uma gestão
realmente democrática, onde a estrutura rígida e linear da organização possa ser
redimensionada.
Embora haja resistência por parte de algumas pessoas, a falta do
planejamento poderá acarretar grandes transtornos que atrapalham o
desenvolvimento da unidade escolar. É preciso motivar os envolvidos para que
participem do processo. Como diz Dalmás (1994), motivar não é fácil, mas quando
os participantes percebem a motivação se deixam cativar.
A família deve participar da vida escolar, contribuir com suas opiniões,
revelando seus desejos e aspirações criando assim uma escola que se relaciona
com a vida.
A escola é incumbida de incentivar a participação dos alunos, que possam
qualificar-se sujeitos responsáveis pelas ações. Cabe a todos pensar de formas a
superar os obstáculos encontrados no cotidiano escolar e a cada um contribuir para
a aplicação de novas formas de agir dentro desse espaço.
Ao coordenador (ou equipe) da vida escolar cabe a responsabilidade criar as
possibilidades de participação da comunidade em seu cotidiano, facilitando e
aprimorando a participação (relação) com os segmentos envolvidos nas aspirações
da escola. A existência desses representantes e as atividades de qualidades são
essenciais na construção de uma escola democrática e autônoma.
Sem dúvida, o desafio maior é construir novas relações no interior da escola,
onde pais, alunos, professores, coordenadores, funcionários não sejam apenas
executores de parcelas nas ações educativas, mas sujeitos coletivos capazes de
apropriarem-se da construção do planejamento integral da escola. Assim, é preciso
saber qual a direção a ser seguida, perceber qual a prática pedagógica acontece na
escola e identificar a melhor alternativa que viabilize o sucesso do trabalho escolar.
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Enciclopédia Biosfera, N.04, 2007 ISSN 1809-0583
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO
O PROCESSO DE PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO ESCOLAR
Autoria: Rosemeire Barreto dos Santos Carvalho
Trabalho apresentado à disciplina de Gestão
Educacional, do curso Mestrado em Educação
da Universidade Católica de Goiás sob a
orientação das professoras Dra. Íria Brzezinski
e Dra. Lenita Schultz, como requisito parcial da
avaliação do semestre.
GOIÂNIA
2005
Enciclopédia Biosfera, N.04, 2007 ISSN 1809-0583

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